Como Implementar uma Estratégia Integral de Digitalização nos Moldes?
Hoje impõe-se às empresas assumirem um mandato de diferenciação, crescimento, expansão e internacionalização, através do desenvolvimento de modelos de negócio ambiciosos. Para tal, é fundamental que sejam capazes de definir uma estratégia que preconize a eficiência, a sustentabilidade e a responsabilidade social, através da adoção dos princípios da indústria 4.0 e do novo paradigma de Sociedade 5.0, quer no seu ecossistema empresarial (vertente interna), quer nos seus utentes, clientes, consumidores, fornecedores e parceiros (vertente externa), trazendo as pessoas para o centro desta mudança, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida.
O alcance desta visão e objetivos só será possível com a capacitação das empresas e suas equipas com ferramentas de gestão estratégica e operacional que agilizem o trabalho, contribuam para a sua segurança e bem-estar, e transformem a informação contida nos dados, medidos em toda a cadeia de valor, em conhecimento e valor, contribuindo assim para o conceito de organização super-humana, inteligente, conectada, eficiente e sustentável. O conceito de Sociedade 5.0, foi lançado pelo Japão em 2017, com o intuito de “posicionar o ser humano no centro da inovação e da transformação tecnológica”, desafiando as empresas a focarem os seus processos, produtos e serviços nas necessidades das pessoas, através de uma profunda integração de tecnologias como a inteligência artificial, a robótica, a Big Data, etc.
Segundo Schwab, K. (2017), no seu livro “A Quarta Revolução Industrial”, os fatores que ditarão mudanças drásticas nas empresas são: a velocidade (tudo acontece a um ritmo muito mais rápido), a abrangência e a profundidade (há muitas mudanças radicais a acontecer em simultâneo) e a completa transformação de sistemas. Partindo destas premissas e conciliando os conceitos de Indústria 4.0 e Sociedade 5.0 os desafios que se impõem às empresas serão por exemplo:
- Desenvolverem uma cultura contínua de inovação, capaz de gerar valor diferenciador para o mercado, de forma rápida e incisiva;
- Definir uma estratégia que envolva, desde muito cedo, as pessoas no processo de mudança e que conduza a uma solução integrada de gestão das operações, da informação e do conhecimento;
- Implementar, com recurso à integração entre sistemas, digitalização de operações, automação e IoT (Internet of Things), um modelo de “Smart Factory”, que assegure eficiência e um fluxo contínuo de informação, produtos e materiais, que minimiza tarefas de valor acrescentado e stocks;
- Desenvolver um sistema de Business Intelligence que permita explorar a Big Data através de uma visualização analítica dos dados e dos indicadores de desempenho (KPIs), que pode integrar modelos preditivos para situações correntes e pontuais, associados a regras de alarmística de suporte à operação;
- Promover a programação de lógicas implícitas de negócio que estão apenas “na cabeça das pessoas” em algoritmos que tornem explícito esse conhecimento;
- Garantir a rastreabilidade de riscos de segurança na sua rede global, através da adoção de sistemas de cibersegurança;
- Ter a noção dos custos fixos e anuais que decorrem da implementação de uma estratégia de digitalização, bem como, da equipa necessária para a gerir;
- Identificar os requisitos da infraestrutura tecnológica a adotar;
- Capacitar as pessoas para a implementação destas mudanças.
Para a conceção e desenvolvimento de uma estratégia de digitalização que dê resposta às áreas críticas da empresa e que preconize a adoção dos princípios de Indústria 4.0 e Sociedade 5.0, propõe-se a seguinte abordagem.
- Análise dos processos de negócio e do estado de digitalização das operações.
- Com o intuito de compreender especificidades da operação e das mudanças a preconizar, e numa abordagem “bottom-up”, ou seja, do “chão das operações para cima”, poderá ser recomendável identificarem-se casos de estudo que encerram diferentes desafios ao nível da gestão das operações e da sua transformação digital (por exemplo: CRM, orçamentação de moldes, gestão de projetos, gestão documental, gestão da produção, compras, digitalização do chão de fábrica, controlo da qualidade do aço e das peças plásticas, gestão dos sistemas de medição, entre outros aspetos).
- Da análise dos casos de estudo deve resultar uma visão holística da estratégia de digitalização, bem os investimentos críticos a realizar, que certamente passam por softwares comerciais ou desenvolvidos à medida e sistemas ciberfísicos (máquinas e equipamentos). A integração destes sistemas é crucial para garantir um fluxo contínuo de informação.
- Para minimizar o risco associado ao plano de intervenção é da máxima relevância a investigação e análise de benchmarkings nacionais e internacionais de referência no setor dos moldes.
- Por se tratar de um aspeto crítico devem ser adotados mecanismos de cibersegurança e disaster recovery para assegurar a integridade da informação e a continuidade das operações em caso de acidente e/ou ataques cibernéticos.
- Após esta análise deve ser traçado um plano de intervenção com as ações a desenvolver no curto, médio-prazo e longo prazo, identificar os investimentos a realizar e as fontes de financiamento disponíveis, tais como os sistemas de incentivo à inovação
- produtiva, qualificação e Investigação & Desenvolvimento.
- Quer o trabalho de diagnóstico, quer de implementação da estratégia de digitalização deve ser devidamente documentado e registadas as lições aprendidas. Compreender que esta revolução implica uma mudança de atitude e a clara perceção de que vivemos num mundo global, interligado e radicalmente aberto, onde a única certeza é a incerteza e a fonte adquirida de vantagem competitiva é o conhecimento, é o ponto de partida para se “fazer acontecer”.
Referência: Schwab, K.(2017). A Quarta Revolução Industrial, World Economic Forum, Levoir.
Cristina Barros | CEO da SINMETRO
Licenciada em Eng.ª Química, Mestre e Especialista em Engenharia e Gestão Industrial e sócia fundadora e CEO da SINMETRO, que, desde 2002, trabalha com a indústria e serviços em gestão estratégica, inovação produtiva e digitalização, I&D, desenvolvimento de software e formação. É ainda Professora Adjunta e Especialista do Politécnico de Leiria desde 2000.